wFolhetim Iluminados
Se tiverem sede dêem aqui um saltinho: http://tiomas.no.sapo.pt mail: tiomas@yahoo.com - e agora para algo completamente diferente: http://viadaverdade.blogspot.com


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wquinta-feira, novembro 27, 2003


O Folhetim faz uma pausa.
Nos próximos dias estarei aqui a vaguear pela Avenida Colón e pelo bairro judeu, e a emborracharme pela zona da Catedral.

Segue-se o programa de actividades:

Jueves, Viernes, Sábado, Domingo y Lunes - Dia líbre sín derecho a viaje en autopullman.




posted by Tomás at 9:57 da manhã


wquarta-feira, novembro 19, 2003


O Milagre da Saúde

Com 40º de febre o mercúrio do termómetro parece um alpinista.
Com 40º de febre deixamos de saber o que andamos para aqui a fazer. Isto não é novidade nenhuma mas deixarmos de saber o que andamos para aqui a fazer com 40º de febre é muito pior do que deixarmos de saber o que andamos para aqui a fazer com 36 e meio.
Com 40º de febre escrevemos duas linhas de filosofia de pacotilha (como as duas linhas anteriores) e julgamos ter escrito um tratado filosófico-humorístico ímpar no panorama cultural galáctico.
Com 40º de febre ansiamos pela hora do Portugal no Coração, o Big Brother é um bom programa e a Operação Triunfo demasiado erudita para o meu gosto.
Com 40º de febre vomitamos por motivos estranhos aos anteriores programas, o que é estranho.
Felizmente que, com 40º de febre, o mercúrio do termómetro começa a ter vertigens e insiste em voltar para baixo.


posted by Tomás at 7:18 da tarde


wsegunda-feira, novembro 17, 2003


Os patetas-alegres

Uma pessoa alegre não é necessariamente um pateta, da mesma forma que um pateta não é necessáriamente uma pessoa alegre. No entanto, uma pessoa alegre passa, a mais das vezes, aos olhos dos outros, por um pateta.

A razão deste falso analogismo é que uma pessoa alegre é normalmente tida como uma pessoa fútil e parva que vive alheada dos grandes problemas existenciais que afligem as pessoas minimamente inteligentes e interessantes. Estas pessoas devem (para serem inteligentes e interessantes) viver permanentemente preocupadas com problemas como a morte e a perenidade da vida humana, a solidão que a todos nos afecta, o problema do peso de uma vida em sociedade, ou seja, a necessidade de conciliar a nossa vontade extrema de liberdade com a nossa necessidade de viver em sociedade (os outros são o inferno, diziam os existencialistas), o amor que os filmes americanos pintam tão puro e que para nós (sempre só para nós) parece uma quimera inalcansável. Bem como outros problemas menos egoístas como a existência do mal, do sofrimento desnecessário de outros seres humanos, a guerra, a pobreza, a estupidez, a ignorãncia, a intolerância, etc, etc, etc.

As pessoas alegres parecem passar airosamente ao lado disto tudo e de muito mais. Certos de que é impossível alguém ser feliz com tanta miséria à nossa volta e dentro de nós mesmos, atribui-se a explicação dessa felicidade à menor capacidade intelectual ou à menor consciência social dessa pessoa: É um pateta-alegre. - dizem.

Pois eu digo que patetas é aquele que afirma isso. Pateta e ainda por cima triste.

Triste porque quem vive constantemente afligido pelo peso dos seus problemas e pelo peso dos problemas dos outros é, necessáriamente, triste.

Pateta por duas razões:
a) porque transmite desnecessariamente essa sua insatisfação a todos os que o rodeiam. Essa insatisfação é comum a todos nós, mesmo aos patetas-alegres, no entanto os outros não têm nada que levar com ela. Como tal há que guardá-la para nós mesmo.

b) como pessoas inteligentes que aparentemente somos, devíamos perceber que (até prova em contrário) só se vive uma vez e, como tal, é uma obrigação moral ser-se feliz. Se só estamos cá por pouco tempo vamos procurar tornar esta estadia o mais agradável possível. Mesmo aqueles que desconfiam que há algo mais, não deviam arriscar tudo numa incerta felicidade post-mortem.

Os verdadeiros Iluminados são, portanto, uns patetas-alegres.

posted by Tomás at 10:58 da manhã


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Causas da infelicidade - Bertrand Russel falava de três grandes causas para a infelicidade: a competição, a inveja e a mania da perseguição. Os budistas também referem três causas: a cobiça, a aversão e a ignorância. Eu e um trio de Iluminadas descobrimos mais uma: viver em Lisboa.

posted by Tomás at 12:25 da manhã


wsexta-feira, novembro 14, 2003


De propósito para esta história recordo aqui, da letra B do Dicionário Iluminados, a palavra:

Barbeiro Local da mais alta metafisica, proibido a carecas, homosexuais e kanteanos. O barbeiro tem sempre razão. Esta infalível estatística deve-se, sem dúvida alguma, ao facto de o digno profissional ter sempre uma lâmina afiada encostada à nossa carótida. Ainda está para aparecer um barbeiro de esquerda.


O cliente anterior

Hoje fiz a visita mensal ao meu barbeiro - não revelarei o seu verdadeiro nome porque ele não quer publicidade. Chamemos-lhe Joel.

Quando vou cortar o cabelo à barbearia do Joel chego sempre um bocadinho mais cedo que a hora marcada - só para cuscar a conversa com o cliente anterior.

Eu nunca gosto do cliente anterior.
O cliente anterior é sempre mais engraçado que eu, tem sempre mais conversa que eu, é sempre mais bem educado que eu, veste-se sempre melhor que eu e muitas vezes deixa gorjeta, o que eu nunca faço.
O cliente anterior é o centro das atenções da barbearia (constituida pelo Joel, por mim mesmo e pelo cliente seguinte, que entretanto entrou).
Sentado no alto de uma daquelas poltronas de barbeiro tipo trono (um trono foleiro, mas um trono), o cliente anterior é possuidor de um obsequioso pajem que pulula à sua volta com o intuito de o embelezar (Joel) e de uma corte de súbditos gadelhudos encolhidos nos bancos de pau em seu redor (eu e o cliente seguinte).
O cliente anterior é Rei!

Tenho ciúmes do cliente anterior mas mesmo assim (num acto masoquista só comparado com aqueles maridos que gostam de ver a mulher na cama com cinco basquetebolistas afro-americanos bem dotados) chego sempre um bocadinho mais cedo para ouvir o que El Rei tem para dizer.

É incrível! O cliente anterior é sempre mais acutilante que eu na análise política contemporânea (nacional e internacional). O cliente anterior sabe o resultado de todos os jogos da super liga de futebol, sabe quem é que marcou todos os golos e sabe ainda quem é que marcaria ainda mais golos se tivessem sido feitas as substituições que ele sabe que seriam as mais correctas. O cliente anterior conhece pessoas influentes. O cliente anterior vai arranjar ao Joel dois bilhetes para a inauguração do Estádio do Dragão (para si e para a Ruth). O cliente anterior sabe o nome da mulher do Joel. O cliente anterior tem o cabelo liso, suave e brilhante e ainda põe brilhantina nos sapatos. O cliente anterior tem tudo isto e eu, ainda assim, chego 5 minutos mais cedo para o ouvir.

Por fim o cliente anterior levanta-se. Paga com uma nota novinha em folha, despede-se do Joel e passa airoso por mim e pelo cliente seguinte que, de olhos colados no chão, levamos com uma chapada de Old Spice na tromba a anunciar : Próóximo!

Levanto-me ainda a medo e dou dois ou três passos tímidos em direcção à cadeira que o cliente anterior deixou coberta de pilosidades capilares. O relógio da barbearia bate as 19h00. A minha hora.

Sento-me. Joel dá-me as boas tardes e um sorriso de confiança começa a subir-me ao rosto. Finco bem as mãos no meu trono enquanto Joel aperta em torno do meu pescoço o meu manto de monarca. Rei morto rei posto! - penso para comigo. Agora eu é que sou o cliente anterior!

Pelo espelho procuro desafiador o olhar do cliente seguinte que se afunda atemorizado no seu banco de pau. Levo a mão ao bolso da camisa e vejo que não me esqueci de ir ao banco levantar uma nota novinha em folha.
Estou pronto para a coroação. Pondero se deva mandar guilhotinar o cliente seguinte, para que ele nunca chegue a ser cliente anterior.
Corta bem rente! - ordeno a Joel, promovido a carrasco.

TomaZ


posted by Tomás at 1:47 da manhã


wquinta-feira, novembro 13, 2003


Abdica e sê rei de ti próprio

Ricardo Reis aconselha-nos calma e serenidade.
Calma e serenidade no amor e nos sentimentos.
Mas o que este pagão apolínio nunca soube é que os momentos de rubra febre apaixonada compensam,
se não superam mesmo, aqueleoutros de queda e depressão em que temos a alma debaixo de uma pedra.

Tirem-me os Deuses

Tirem-me os deuses
Em seu arbítrio
Superior e urdido às escondidas
O Amor, glória e riqueza.
Tirem, mas deixem-me,
Deixem-me apenas
A consciência lúcida e solene
Das coisas e dos seres.

Pouco me importa
Amor ou glória,
A riqueza é um metal, a glória é um eco
E o amor uma sombra.

Mas a concisa
Atenção dada
Às formas e às maneiras dos objetos
Tem abrigo seguro.

Seus fundamentos
São todo o mundo,
Seu amor é o plácido Universo,
Sua riqueza a vida.

A sua glória
É a suprema
Certeza da solene e clara posse
Das formas dos objetos.

O resto passa,
E teme a morte.
Só nada teme ou sofre a visão clara
E inútil do Universo.

Essa a si basta,
Nada deseja
Salvo o orgulho de ver sempre claro
Até deixar de ver


Ricardo Reis


posted by Tomás at 12:37 da manhã


wterça-feira, novembro 11, 2003


Leitura a dois

Podem seguir a minha leitura do livro de Colin McGinn "The Making of a Philosopher" aqui.

posted by Tomás at 11:27 da manhã


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O voyeur não é o vizinho da frente

Da janela do meu quarto observo os primeiros raios de sol que queimam o teu rosto adormecido.
Vejo-te levantar e acompanho com o olhar o teu corpo esguio que dança indolente e sensual sob o tecido leve da tua camisa de alças enquanto procura o roupão branco que te abraça todas as manhãs e promete não te largar - imagina, o dia todo no seu aconchego.
Da janela do meu quarto vejo que bebes o primeiro copo de água bem fresca, logo pela manhã, quando ainda os teus cabelos plúmbeos lembram a almofada da cama e o cheiro das torradas e da manteiga derretida anuncia que o café está pronto. Um gesto muito teu para os afastar da cara corre a cortina de ferro que todos os dias se mete entre nós.
O teu banho é o momento do meu pudor. Recolho-me, silencioso. Baixo o olhar, envergonhado.
Cinco minutos depois já estás vestida, as chaves do carro estão no sítio do costume, sais de casa e fechas a porta.
- Até logo! Quando chegares estarei na sala a ler os Classificados, fingindo que acredito que só preciso de arranjar outro emprego para que voltes a falar comigo.

posted by Tomás at 2:33 da manhã


wdomingo, novembro 09, 2003


Leituras de um domingo ressacado

- "Uma vez, um filósofo, duas, um sodomita."

- The Case Against the Democratic State: An Essay in Cultural Criticism

- Os Homens Maus Poderão Levar Cérebros Bons a Fazer Coisas Más?


posted by Tomás at 1:49 da tarde


wquinta-feira, novembro 06, 2003


O leitor terá de ir exercitar o seu voyerismo para outro lado (sugiro um programa que passa na TVi...) pois eu tenho de ir arranjar o telhado da minha cottage.
Bom fim de semana!


posted by Tomás at 1:54 da manhã


wquarta-feira, novembro 05, 2003


E agora para algo completamente diferente (não da busca da verdade, mas deste blog).

posted by Tomás at 10:14 da manhã


wterça-feira, novembro 04, 2003


Leitura a dois
Entreguemo-nos unicamente à busca da verdade. A vida é miserável e a hora da morte incerta. Se me surpreender de súbito, em que estado sairei deste mundo e onde aprenderei o que nesta vida negligenciei saber? Não terei antes de suportar os suplícios desta negligência? E se a morte me amputar e exterminar todas estas preocupações, tirando-me os sentidos? É preciso, portanto, examinar também este ponto" Confissões de Santo Agostinho

Aqui também se lê a dois

posted by Tomás at 6:58 da manhã


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Viva Portugal! Vivam os portugueses!
Descobri no Prós e Contras de hoje o que já suspeitava há muito tempo:

- 10% dos portugueses estão informados sobre o projecto da Constituição Europeia
- 1% dos portugueses estão neste momento a ler poemas homéricos directamente do grego ático
- 1% dos portugueses acham que isto só vai lá com uma revolução armada
- 2% dos portugueses estão a tricotar camisolas de lã para os netinhos
- 2% dos portugueses usam roupa interior feminina vermelha
- 2% das portuguesas também
- 11% dos portugueses gostariam de ter nascido no Reino Unido
- 2% dos portugueses gostariam muito de mudar de sexo
- 2 portugueses (percentagem ridícula) acham que deviamos mandar tropas para Madagáscar
- 90% dos portugueses não sabe/não responde
- 90% dos portugueses não pergunta
- 90% dos portugueses não quer saber
- 90% dos portugueses acham que já sabem tudo e que a culpa é dos políticos
- 10% dos portugueses acham que a culpa é dos 90% de portugueses que acham que já sabem tudo e que dizem que a culpa é dos políticos
- 1% dos portugueses são sócios desta associação
- 90% dos portugueses acham que o Telmo fez bem em sair da casa do Big Brother


posted by Tomás at 12:03 da manhã


wdomingo, novembro 02, 2003


Uma pergunta do Iluminado Diogo
O que é escrever bem?
Será que o escrever bem varia de acordo com os gostos de cada pessoa, ou independentemente disso, escrever bem está logo patente quando se escreve?
Podiamos pensar logo, ao ler este artigo, no nosso autor preferido. No meu caso seria o António Lobo Antunes. Eu gosto do que ele escreve, mas é escrever bem? Por outro lado, se o Saramago ganha o Nobel com a escrita dela, eu devo então ter mau gosto.
Penso que escrever bem ultrapassa o gosto pessoal de cada um. Há autores que escrevem bem e determinada pessoa pode detestar, como por outro lado, haverá autores que são um atentado e que têm milhares de seguidores. Cada um terá algum aspecto positivo, pois os humanos têm sempre uma caracteristica que os distingue individualmente, e é essa caracteristica que se deve exaltar e aproveitar.
O escrever bem, deve então ser quase sempre. Deve ser o aproveitar o que cada autor tem para dar, por muito mau que seja. Nem que seja para aprender com os erros.


Diogo, escrever mal é isto e escrever bem é isto.
Ou será ao contrário?

os humanos têm sempre uma caracteristica que os distingue individualmente, e é essa caracteristica que se deve exaltar e aproveitar.
Exactamente!


posted by Unknown at 9:24 da tarde


wsábado, novembro 01, 2003


Os Ginasiantes (adenda à letra G do Dicionário Iluminados)

Muito frequentemente dou por mim a irritar-me solenemente com aquelas pessoas que vão bem dispostas para o ginásio e que, ainda por cima, parecem querer-nos impingir a sua boa disposição institucional.

O que os ginasiantes (essa escória de gente que frequenta os ginásios, amálgama de jucundos professores de aeróbica brasileiros, alterofilistas amadores e ex-bailarinas na reforma) parecem não saber é que um ginásio não é um sítio para se estar bem disposto.

Um ginásio é um sítio onde se cultiva o corpo jovem e saudável. Ora, é uma verdade insofismável que todos nós (ginasiantes incluídos) estamos a ficar cada vez mais velhos e rotos (e os donos dos ginásios têm o costume sádico de colocar lá espelhos para nos lembrarem disso mesmo). Como tal, um ginásio deveria ser um local de depressão e sacrifício (uma espécie de "Salão do Reino das Testemunhas de Jeová Sodomitas" em versão fato de treino), daí que eu não veja motivo algum para todos aqueles risinhos e gritos de incentivo com que os ginasiantes insistem em nos brindar.

Deviamos era estar todos a chorar e a procurar consolar-nos uns aos outros do nosso destino fenecente, e de preferência deviamos fazer isso tudo na Sauna.

Sinceramente não vejo como é que saltar ao pé coxinho em cima de um step , vestido de pantera cor de rosa e a transpirar banha e óleo de batatas fritas pode fazer alguma coisa pela nossa angústia existencial.

posted by Tomás at 3:54 da manhã